• Thiago Azevedo
  • 1 de setembro de 2023

SÃO LUÍS – MPMA realiza palestra sobre violência contra a mulher

 

O Ministério Público do Maranhão, por meio de sua Corregedoria Geral e da Escola Superior (ESMP) realizou, na manhã desta sexta-feira, 1º de setembro, no auditório do Centro Cultural e Administrativo do MPMA, uma palestra com a promotora de justiça Selma Regina Souza Martins, titular da 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Mulher de São Luís.

A promotora de justiça abordou os temas “Violência de gênero e suas consequências psicológicas” e “Escuta, empatia e acolhimento das vítimas de violência”.

Na abertura da atividade, o procurador-geral de justiça, Eduardo Nicolau, enalteceu o trabalho desenvolvido por Selma Martins e demonstrou a sua felicidade em contribuir, como chefe da instituição, para o trabalho de redução de violência contra a mulher. Para Eduardo Nicolau, o Ministério Público, mais que qualquer outro órgão, tem o dever de se colocar a favor da mulher. “Quanto mais tivermos plataformas e meios de impedir essa situação, melhor para a sociedade”, observou.

A corregedora-geral do MPMA, Themis Pacheco de Carvalho, destacou a importância dos temas discutidos no ciclo de palestras promovido pela Corregedoria e ESMP, enfatizando que a violência contra a mulher é algo que toca a todos. A procuradora de justiça reforçou que os estudantes presentes serão multiplicadores das informações contra a violência. “Precisamos construir uma sociedade melhor, mais harmônica, mais solidária e menos violenta”, enfatizou.

A procuradora de justiça Sandra Lúcia Mendes Alves Elouf, ouvidora do Ministério Público do Maranhão, apresentou os canais de atendimento do órgão e falou sobre o trabalho de levar a Ouvidoria aos bairros. “Nós estamos a serviço da sociedade e nos deparamos com o problema na base, ouvimos o cidadão, e não esperamos que ele venha até nós”, explicou.

A diretora em exercício da ESMP, Elyjeane Carvalho, ressaltou a parceria com a Corregedoria, que tem apresentado excelentes resultados, e destacou a importância do tema, observando a vasta experiência da palestrante, reconhecida nacionalmente por sua atuação na defesa das mulheres.

PALESTRA

A promotora de justiça Selma Martins iniciou sua fala apresentando a possibilidade de requisição de medidas protetivas de urgência de forma online, por meio da plataforma “MPU Salva Vidas”, disponível no site do Ministério Público do Maranhão. Ela apresentou o formulário online, que tem abrangência em todo o Maranhão, ensinando como preencher os campos.

De acordo com Selma Martins, uma mulher é assassinada a cada 90 minutos no Brasil, país com o 5º maior índice de feminicídios no mundo. Mas para além da morte, as mulheres são vítimas de uma série de tipos de violência, como a física, psicológica, sexual, moral e patrimonial. Sobre a violência psicológica, a promotora de justiça apresentou algumas de suas formas, como humilhações, ameaças, vigilância constante, chantagens e controle da vida social. “Esse é um tipo de violência para o qual não existe corpo de delito”, observou.

 

A palestrante também abordou formas de violência velada, como o controle do que a mulher veste ou a tentativa do parceiro de afastá-la da família, dos amigos, estudo ou trabalho, e os motivos que levam as vítimas a não denunciarem ou voltarem para os seus agressores, que vão de casos em que as mulheres sequer têm consciência de que vivem uma situação de violência até a incerteza do que pode acontecer com elas ou com os filhos em caso de prisão do companheiro.

DEPOIMENTO

Girlene Araújo foi vítima de uma tentativa de feminicídio praticada pelo seu ex-companheiro. Ela esteve presente, dando o testemunho de sua experiência acontecida há cerca de cinco anos.

Anos após a separação, Girlene passou a ser perseguida pelo ex-marido, que queria retomar a relação. Essa situação chegou ao extremo quando ele a atacou com 18 facadas, só parando quando ela conseguiu tomar a faca de suas mãos. Desde então, ela já passou por sete cirurgias em decorrência do ataque.

Em sua fala, a vítima da tentativa de feminicídio descreveu toda a situação enfrentada, inclusive a necessidade de ficar escondida enquanto o ex-companheiro estava fora da prisão. Segundo ela, só foi possível vencer aquela situação com apoio de sua família, amigos e outras pessoas que a ajudaram nesse período.

NAV

A promotora de justiça Lana Cristina Barros Pessoa, titular da 6ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de São Luís, aproveitou a oportunidade para apresentar o Núcleo de Apoio às Vítimas (NAV), coordenado por ela.

O NAV foi criado a partir da necessidade de dar apoio às vítimas de violência doméstica e familiar, e teve como base a Resolução nº 243, de 18 de outubro de 2021, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). No Maranhão, o Núcleo foi criado em maio deste ano. Entre as suas atribuições estão a orientação jurídica e o apoio psicossocial às mulheres vítimas de crimes relacionados à violência doméstica e familiar, bem como feminicídio, além de seus familiares, considerados vítimas secundárias.

De acordo com a promotora de justiça, o trabalho desenvolvido tem como princípios Acolher, Respeitar e Reparar. Recentemente, foi firmado um termo de cooperação técnica com a Universidade Ceuma, prevendo o oferecimento de atendimento psicológico às vítimas por meio de uma Clínica Flutuante. Já há 14 atendimentos agendados pelo Núcleo.

Lana Pessoa também apresentou o projeto “Em nome da mãe – proteção na orfandade de crianças e adolescentes vítimas de feminicídio”. O objetivo do projeto é acolher as vítimas secundárias ou indiretas de feminicídio: crianças e adolescentes órfãos, da região metropolitana de São Luís, garantindo os amparos social, jurídico e psicológico, além do acesso a todos os benefícios que estas vítimas tiverem direito.

Para garantir a efetividade do projeto, está sendo realizada uma busca ativa das vítimas, por meio da coleta de informações no sistema de segurança ou sistema processual, além da rede de proteção social e serviços de assistência social, saúde e educação. Nesse trabalho, estão sendo verificados processos de 2019 a 2023.

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